* * *
Era
dez da noite e Matilde subia as escadas apressada: tinha um encontro marcado.
Era um encontro cego, com um cara que ela não conhecia, de quem ela pouco
sabia, mas a quem a natureza feminina já impunha uma certa necessidade de
impressionar. Tentava, em vão, se livrar das expectativas de um primeiro
encontro. Do fardo, ainda que leve, que todas as mulheres carregam por se
exigirem demais.
Ao
entrar em casa Matilde se despe e corre para o banho, deixando as roupas espalhadas pelo
chão da sala. Debaixo do chuveiro quente
revira, mentalmente, tudo o que tem no armário. Primeiro encontro pede um
vestido, pensa Matilde. Um que não revele pouco nem muito, para manter o
mistério que sua boca, excessivamente faladora, vai fazer questão de revelar.
“Se eu despejo a vida inteira depois de uma bebida, pelo menos a roupa tem que
ser contida, no meu lugar.” Matilde abandonou o raciocínio rapidamente, para se arrumar.
Ao
ver as peças dispostas sobre a cama, o vestido, os acessórios, a bolsa, Matilde
se sentiu mais confiante. Seja qual fosse o resultado da noite, pelo menos ela
estaria deslumbrante para si mesma. Uma questão de amor ao espelho. Mas se tem uma coisa que precisava da atenção de Matilde,
essa coisa era: a roupa íntima. É que na pressa, a calcinha foi negligenciada e
Matilde pensou apenas no conforto de uma noite sem apertos.
Escolheu
sua calcinha mais confortável, mais velha, mais bege, mais feia e mais alta.
Dessas que cobrem o umbigo e abraçam a barriga com carinho, que enfrentam TPMs
como bandeiras hasteadas de paz. Dessas sem graça, sem renda, sem pretensões,
de puro algodão fofinho. Dessas cor de pele, meio furadas, puídas e sem
tesão. A ideia do vestido deslumbrante ofuscou o estado deplorável do calçolão.
Matilde
saiu serelepe para o seu encontro. Percebeu que errou no salto por que o cara
era baixo demais. Percebeu que errou na bebida, por que exagerou demais.
Percebeu que errou no vestido, por que ele era fino demais. Entre um e outro
abraço, o dito moço passou sua mão pela cintura de Matilde e constatou,
surpreso, a existência de alguma coisa ali por baixo. “O que é isso? Uma cinta?
Um elástico? Um marca-passo?”
Matilde
congelou com a pergunta inoportuna e desconcertante e pensou em como
poderia dizer que aquilo era a abrangente vastidão da sua enorme calcinha. Não adiantaria
explicar tudo o que significa uma calcinha bege e furada na vida de uma mulher,
então Matilde disparou: “Uma hotpanties. Dessas estilo pinup, que cobrem o
umbigo.” Ela poderia ter falado qualquer coisa derivada do
“hot”, que surtiria o mesmo efeito mágico da sugestividade: “É um hotfiladélfia.
Um hotpocket Sadia. Um hotwheels.” Tudo dava no mesmo. O ouvido "cega" para o que a gente não quer saber.
A
calçola de metro e meio, bege, velha, puída e furada, virou uma convidativa lingerie pairando
no imaginário do sujeito e deixou o cara curioso. “hummm, vou querer ver isso
aí depois.” E aqui Matilde pensou que se mostrar numa calcinha bege é um ato de muita intimidade,
dessas que não cabe numa primeira vez. “Talvez num próximo encontro.” Um que nunca vai acontecer.
* * *
hahahhaha, Matilda, faz parte ! Mas vale lembrar que dia de sexta feira é pra caprichar hahaha
ResponderEliminarVc sempre me surpreende. ;)
ResponderEliminarVc sempre me surpreende!! ;)
ResponderEliminarahahahahaha boa...
ResponderEliminarHAHAHAHA, que texto MA-RA-VI-LHO-SO. No próximo encontro acho que vou usar uma "hot", a noite dura mais e tudo fica muito mais confortável, bom conselho Matilde :)
ResponderEliminarCarol te amo! apenas morri com “É um hotfiladélfia. Um hotpocket Sadia. Um hotwheels.”
ResponderEliminarExcelente! haha
ResponderEliminarkkkkkkkkkkkkkkkkk! Vc é demaaais Carol!!!!! Ficar linda e confortável é sempre um dilema, ficar deslumbrante e intimamente confortável é dilema maior! Se saiu mto bem! Vou adotar a hotpants!
ResponderEliminarhahahahahaha pode postar mais cronica ri demais
ResponderEliminarAhhhh amei!
ResponderEliminarComo eu gostaria de ter tido esta perspicácia para me livrar de uma situação como esta, ocorrida outrora.
Foi assim, eu tinha perdido uns 10kg, e no local de me satisfazer, coloquei uma cinta tipo maiô. Ao passar a mão em minha cinturinha de pilão ele perguntou se era uma cinta!!! Ai que vergonha...
Eu disse que era um suporte para a coluna HAHAHAHAHAHHAHAH ai eu me mato de rir até hoje lembrando disso.
Mas teve um lado bom, não fiquei mais com o rapaz e na semana seguinte conheci meu atual noivo!!!! Uhuuu
Bjs para vc Carols!
Boa!
EliminarBoa!
EliminarRi alto Carols.. parabéns por sua criatividade sem fim!!
ResponderEliminaruashuhauhauhauhauhuahauh
ResponderEliminarRi muito com o Hotwheels!!! kkkkkkkkkkkkkkk
uashuhauhauhauhauhuahauh
ResponderEliminarRi muito com o Hotwheels!!! kkkkkkkkkkkkkkk
anda vendo muito Bridget Jones, Carol.
ResponderEliminarMuito bom, Carol!! hotfiladélfia é a melhor! =D
ResponderEliminarkkkkkkkkk adorei
ResponderEliminarkkkkkkkkkkk adorei
ResponderEliminarHAHAHAHAHAHAHA
ResponderEliminarsensacional Carols! <3
É um hotpocket? kkkkkkkkkkk AMEI.
ResponderEliminarAdorei!!!! kkkkkkk
ResponderEliminarOi Carol....simplesmente ADOREI tua crônica....sou viciada em livros e quando terminei de ler já estava pensando em comprar o livro...kkk...e aí? É pra quando?hehe...Parabéns ;)
ResponderEliminarOi Carol....simplesmente ADOREI tua crônica....sou viciada em livros e quando terminei de ler já estava pensando em comprar o livro...kkk...e aí? É pra quando?hehe...Parabéns ;)
ResponderEliminarRi tanto tbm! Carol vc é o máximo! Rs.
ResponderEliminarHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUHUAHAU Perfeito como sempre, Carols! Ri alto por aqui! =)
ResponderEliminarCurti!
ResponderEliminarChorei com "hotwheels". kkkkkkk
ResponderEliminarTexto muito bom!
adorei hotpanties, hotfiladelfia, etc... kkkk... ótima saída
ResponderEliminarMuito bom, Carols! Você tem muito talento!
ResponderEliminarwww.saiadecrepom.com.br