Detalhes íntimos

Não lembro do dia em que tomei aquela decisão, mas era tão desejada que ultrapassava qualquer limite de razão ou bom senso. Imagino quantas e quantas garotas e mulheres passam todos os dias pelos incômodos em frente ao espelho. Eu, como toda garota de 13 anos, sonhava em ver meus seios crescerem a ponto de preencher um decote com fartura, acreditava que seria mais feminina com um par de bolas, vejam só que ironia. Aos 13 anos de idade eu tinha corpo de atleta: musculatura definida, barriga trincada, um índice baixíssimo de gordura, pouca ou nenhuma consciência corporal e uma autoestima destroçada pela inveja que sentia de todas as amiguinhas de escola que já usavam sutiã de bojo, enquanto eu preenchia aqueles de modelo infantil, com bolinhas de algodão.

Foi assim até os 19 anos. Minha autoimagem de mocinha estava reduzida ao transtorno de não ter seios, à angústia de pesar 43 kg de músculo e ginástica olímpica, ao desespero de não ter uma dobrinha sensual sequer pra os "rapazes olharem". Hoje, em tempos de extremismo fitness, tapioca-whey-suco-verde, parece até piada dizer que eu sofria bullying na escola por ter "barriga de menino" e ser a aluna mais dedicada das aulas de educação física. Quanta bobeira. Mas que atire a primeira pedra quem nunca teve alguma paranóia com o próprio corpo. E pior, por causa dos outros.

Ter zero peito virou uma tragédia adolescente da minha vida (e hoje eu amargo a é perda dos músculos, risos!) e aos 19 anos decidi resolver esse problema colocando próteses de silicone. Mal sabia eu que, ao me livrar do problema com o espelho, estava criando uma série de novos perrengues de ordem prática, que eu simplesmente desconhecia quando não tinha seios.

1) dormir de barriga para baixo passou a ser a tarefa mais difícil do mundo. Adquiri também uma crônica dor nas costas, na altura da omoplata, resultado da minha postura que piorou. 2) eu, que adorava um decotão super sofisticado no melhor estilo Carolina Ferraz, parei de usar decote para não ficar força-de-um-desejo style #saudadesclaudiaabreu. 3) por fim, descobri que, se eu tinha problemas para "tirar"o sutiã, eu encontrei um desafio ainda maior: colocar um!

Lembro perfeitamente de ter assinado aquele papel que o cirurgião me enviou, atestando ter conhecimento de todos os problemas que poderiam decorrer de uma cirurgia daquele tipo, mas tenho a certeza absoluta que, em nenhum momento, me disseram que eu passaria o resto da vida lutando contra aros, alças e bojos. Confesso que nunca fui de comprar lingerie em lojas especializadas e sempre me contentei com sutiãs de R$ 29 da Marisa, mas essa modéstia acabou na semana passada, quando resolvi experimentar um modelo da Loungerie, que a vendedora insistiu.

Vic, a vendedora (que repetiu seu nome umas 20 vezes "qualquer coisa meu nome é Vic, tá?") conseguiu me vencer pelo cansaço e assegurou que só a Loungerie tem sutiãs para todas as mulheres (adorei esse slogan, Vic.). Fui relutante, mas enfim deixei Vic tirar as duas medidas que realmente importam no quesito Comissão de Frente: 1) o busto 2) a linha imediatamente abaixo do busto. Até semana passada eu sofri o peito pão que o diabo amassou para encontrar o underbra perfeito, porque em todas as compras feitas até hoje o sutiã sempre ficava apertado nos seios e enorme na largura das costas  e invariavelmente ia escorregando pelo corpo. O resultado? Uma visão psicodélica e aterradora de um corpo com 4 seios onde, de repente, o sutiã caído dava a impressão de que eu tinha um par de peitos bem no meio da barriga. Quem nunca?

Mas Vic resolveu o mais prolongado dilema fashion da minha vida em 2 minutos e uma gaveta com dezenas de opções, cores, modelos e rendas. "42 C. Experimenta!"

42 C. 42 C. 42 C.

Nunca mais vou esquecer desse momento de epifania. Se um dia eu achei que a junção de letras e números em matemática era pura sacanagem cognitiva diante da qual eu reprovei em dezenas de provas e desenvolvi fobia e insegurança extrema com a matéria, foi com esta revelação da Vic que eu descobri o mais profundo sentido dessa estranha fusão matemática de letras e números: segurar bem qualquer peito look.

1) sutiã foi esse aí da foto principal: R$ 79. 2) Não, isto não é um publipost. 3) será que medida de sutiã segue regra da ABNT? Deveria. 

Beijos, Carols