Uma dessas crônicas sem comprovação estatística, baseada apenas numa experiência pessoal e intransmissível.
Dizem, mas não sei se é verdade, que o pincel de um delineador diz muito sobre a idade de uma mulher. Talvez os dados científicos não comprovem nenhuma teoria a respeito, talvez é dom e o jeito que guiam nossa mão do canto ao externo do olho, esquerdo ou direito, inverso ou oposto, talvez seja a força, a cadência, o ritmo ou a fluidez, mas o pincel de um delineador diz tanto sobre mim como, talvez, diga sobre vocês.
É que à beira dos 30 anos, e aqui utilizo a licença poética para arredondar minha idade sempre para cima, descobri que não sabia mais pintar o olho como sempre fiz. Subitamente me vi num ciclo vicioso de puxar o gatinho de um olho, depois puxar do outro, depois acertar as pontas e puxar de novo e então esticar ainda mais o traço, engrossar um pouco o esquerdo, engrossar ainda o direito e ao fim de 15 minutos de peleja, me assustei com o reflexo no espelho.
Onde foi que eu errei? Fiz tudo como sempre, manuseei com segurança e maestria o pincel de ponta bem firme, quase uma caneta de colorir, e sei lá como saiu tudo errado, um olho torto e o outro borrado, mais pregas no traço, que uma saia plissada de cetim. Não fosse apenas um caso isolado, o olho torto e o borrado voltaram a se repetir. Aí entendi que fazer bem um olho de gato é mais do que precisão manual ou treino de retidão é questão de pincel. Logo eu, que pinto em tantas folhas de papel, em telas e texturas diversas, não percebi que o pincel de qualquer pintura tem que acompanhar as ranhuras da sua superfície.
É que, à beira dos 30 anos quase redondos, a pele dos olhos não é mais a mesma dos 15. Não tem mais a tensão de tela nova esticada, a lisura das folhas brancas engomadas, a firmeza flexível da borracha. Aos 30 anos quase cravados, a pele dos meus olhos ganhou finas rugas e hoje tem uma textura suave de papel crepom. E é nessa idade, quando o corpo inteiro começa a perder a rigidez, que o pincel do delineador muda de forma e a gente troca a ponta firme de uma canetinha, pela incerteza de uma cerda mole e flexível. E assim o traço volta a ficar perfeito, o pincel espalha a cor sem repuxar as pálpebras, penetra a tinta em cada vinco e enfim, os dois olhos encontram de novo o gatinho bom. E se isso serve de metáfora para a vida de uma mulher, podemos dizer que, à medida que amolecemos o corpo, amolecemos tantas outras certezas, deixamos cair por terra tantas firmezas, que precisamos parar de insistir no que a gente achava que era bom, para encontrar o pincel perfeito e continuar pintando. :)
Beijos, Carols
Simplesmente amei o post! Só! : )
ResponderEliminarCarols, você arrasa demais sério fico encantada com suas crônicas vc escreve muito bem. Parabéns
ResponderEliminarChorei, aqui também, com o texto (e as verdades), a beira dos 30.
ResponderEliminarBicha sabida dimai tu, mô véi! (Falando em "recifês")
ResponderEliminarCarol amei tudo que vc escreveu, obrigada !
ResponderEliminarCarol, arrasando como sempre. Ótima crônica. Bjsss
ResponderEliminarQuerida Carol tem aproximadamente uns três anos que acompanho seu blog, e o que me encantou não foi nenhuma informação de moda mais sim ver um blog escrito, por uma mulher com alma de menina, personalidade que é muito parecida com a minha ,apesar de adorar suas crônicas não posso deixar de observar que essa " beiradinha" dos trinta meche muito contigo e não de uma forma positiva! Só espero que VC n deixa essa moleca morrer pq é justamente por ela que abro seu blog todos os dias em busca de um novo post,Bjus
ResponderEliminarArmaria biu! Imagine a minha dificuldade aos 50 ahahaha
ResponderEliminarAff, exatamente isso!
ResponderEliminarParabéns pela crônica. Sempre acho curioso essa sua magia pelos 30 e como as pequenos coisas se relacionam com esse momento que ainda, de fato, nem chegou até vc.
ResponderEliminarAtrai-lo bem, como vc faz, torna-rá sim, essa nova fase da sua vida sempre mágica.
Inté
Mesmo que ainda um pouco distante dos 30, tenho sentido uma malemolência diferente, mas me refiro a como a vida anda e a gente vai de moldando em torno dos acontecimentos, tenho estranhado algumas atitudes e até gostado muito da maioria delas, percebi que essa malemolência tem ha ver com aprendizados e #tôamando isso ! Espero chegar aos trinta, me moldando e sempre trocando os pincéis também :)
ResponderEliminarFalei, falei e não disse o que vim dizer ! Como sempre, amo tuas crônicas, teus posts, teu looks. Muito amor ao SFD <3
ResponderEliminarCarol adoro suas crônicas, me divirto muito, essa semana percebi uma coisa: O SPFW não é tão valorizado quanto as semanas de moda internacionais, até mesmo nossas blogueiras se montam mais lá fora do que aqui, parece que não valorizam o evento, já que você é do meio, pensei que se você escrevesse um texto sobre isso acho que seria muito interessante, beijos (:
ResponderEliminarPeço licença para falar: você fica mais bonita sem o delineador. Não, não que tenha ficado feia. Longe disso. Mas tem alguma coisa forte (e bonita) na sua expressão que se perde com o rastro do gatinho. Bj.
ResponderEliminarpoxa, que lindo. Obrigada, Alexandra. <3 eu tenho a impressão que meus olhos são mais expressivos sem o gatinho. :D
ResponderEliminarComo assim você faz uma poesia dessas toda sobre a troca de um pincel?! Você manda muito, mulher. Ótimo texto. Sensibilidade mil!
ResponderEliminarOi Carol! Texto incrível, como sempre! =)
ResponderEliminarEu tb estou quase nos 30, mas com vários aspectos errados para a minha quase idade....o que me causa extrema ansiedade =/
Seu texto me causou emoção e desespero ao mesmo tempo hahahahaha
bjos!
Adoro seus textos, são sensacionais, não me canso de falar isso aqui! Nunca pensei que o pincel faria diferença com a relação a idade/pele HAHAHAHAH http://simsemfrescura.blogspot.com.br/
ResponderEliminar[…] 2. Firmeza X Flexibilidade […]
ResponderEliminarE daqui, perto dos 40, me reconheço em sua crônica. Os 30, quando chegaram, trouxeram a percepção de uma pele menos firme; e a alegria das escolhas livres de julgamentos e de verdades absolutas. Hoje sou assim, amanhã já não sei. ♥
ResponderEliminarE daqui, perto dos 40, me reconheço em sua crônica. Os 30, quando chegaram, trouxeram a percepção de uma pele menos firme; trouxeram a alegria de escolhas livres de julgamentos e o desapego das verdades absolutas. Hoje sou assim, amanhã já não sei. ♥
ResponderEliminarLinda crônica, linda metáfora. Um bom assunto para se pensar. Não estou perto dos 30, mas tampouco perto dos 15 e já me vejo numa rua, para sempre em diante, sem volta. O que posso fazer é, apenas, caminhar e aprender. Obrigada pelo texto!
ResponderEliminarwww.eunomadiando.blogspot.com.br
Vou te falar viu, você arrasa com esses textos.. Quando teremos a chance de comprar o "Crônicas de Carols" nas livrarias ?
ResponderEliminarBeijo!
Uau! Fiquei sem fôlego! Acho que foi a melhor coisa que já li em muitos anos! Parabéns!
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