Ponto de vista

07 outubro 2016
São 7:30 da manhã e eu sempre quis um apartamento com vista. Vista pro mar, vista pro jardim, vista pra serra, vista pra rua. Mas nem sempre a gente consegue o que deseja, não porque a vida seja má, mas porque a balança pende pra um lado e outras prioridades se tornam mais importantes que uma vista para o céu.

Ainda que seja penoso admitir que qualquer coisa nessa vida seja mais importante que olhar para o céu, eu admiti, e admitindo optei por um apartamento com vista para as paredes de outros apartamentos. Pensei: trabalho tanto, mas tanto, que me parece mais importante ter um apartamento  realmente confortável do que o prazer de uma vista.


Sento no sofá, com meu café quentinho entre as mãos, aquecendo os dedos no calor da xícara e olho para fora. Percebo o sol brilhando pelo reflexo forte nas paredes brancas do edifício vizinho. Chega a doer meus olhos. Coloco a cabeça na janela e sinto o ventinho gelado desse inverno atípico no Rio. Olho pra cima e o céu me invade as pupilas pela fresta que sobra entre os prédios. A vida urbana cria molduras de concreto e o azul vira peça de arte para a observação dos mais atentos. Aquele pedaço de céu, só eu vejo, só eu tenho.


Olho pros dois vasinhos de planta que meu namorado cuidadosamente cultiva no parapeito. São plantas pequenas, pouco frondosas, poderia até dizer que são discretas, mas a natureza tem a capacidade de se impor, não importa o seu tamanho. Posiciono minha câmera por baixo da planta para tirar uma foto do meu pedacinho particular de céu azul e as folhinhas invadem meu enquadramento com uma revelação: a perspectiva transforma o pequeno em gigante.


Aquele pensamento desencadeia muitos outros. A miudeza de tantas coisas tem uma imensidão dentro da gente. Penso nos sentimentos miúdos que cultivamos, nas pequenas tristezas, nos atritos bobos, nas frustrações ligeiras, nas caixinhas onde nos apertamos. Penso em como nossos problemas são pequenos vistos do céu, mas enormes quando vistos da perspectiva de cada planta que cultivamos no peito. Pequenos vasinhos que acumulamos, regamos, cuidamos, vasinhos que poderiam decorar quem somos, como um adereço.

Beijos, Carols
11 comentários on "Ponto de vista"
  1. Realmente, tudo na vida é questão de perspectiva, e esse pedacinho de céu que a gente vê pela janela pode parecer pouco para quem o tem imenso todos os dias, mas para nós ele é imensidão, é essencial e é maravilhoso *-*

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  2. Que saudade estava das suas poesias!!
    Que Jesus te abençoe, te guarde e ilumine!!
    Bjnssss

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  3. Anónimo19.10.16

    Hoje eu pensei: "tô a fim de ler um blog".
    Vim aqui e, ao me deparar com a ausência, minha vitrolinha interna tocou:

    "Baby come back, any kind of fool could see
    There was something in everything about you" (HAHAHAHAHAHA)

    "Te acompanho" desde os looks pelas ruas de Recife. Vai fazer falta.
    Mas tudo que desejo é que essa nova fase seja excepcional! E, quando (e se) quiser voltar, tenho certeza que ainda vai ter muita gente por aqui. :*

    Ingrid

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  4. Nossa Carol como é delicia ler seus textos, parecia uma página de um livro que estava lendo.

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  5. Fiquei tão feliz com seu post. E é assim mesmo, a gente vai se adaptando aos caminhos e escolhendo as perspectivas.

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  6. Lindo Carol :) A vida é assim... cheia de ângulos e de perspectivas. O importante é encontrar a melhor vista para cada momento! Uma bela reflexão! Beijos

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  7. Anónimo3.11.16

    saudades das suas palavras!!!!

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  8. Anónimo20.11.16

    Que lindeza, Carol!

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  9. Que lindo esse post! pura poesia!

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