Uma das coisas mais legais da nossa lua de mel foi a alternância de cidades no nosso roteiro. Passamos alguns dias vendo a arquitetura histórica de Roma, de lá pulamos para o aconchego das montanhas de Nocelle, de Nocelle fomos aproveitar o sol e o mar em Capri e de Capri fomos para Florença, mais uma cidade histórica incrível. Durante toda a nossa viagem foi assim, não enjoamos dos destinos, porque intercalamos lugares muito diferentes, então acho que isso deixou a viagem muito mais leve, menos enfadonha e menos cansativa, mesmo que tenha sido bem corrida: 11 cidades em 25 dias.
Então, das águas de azul profundo de Capri, pegamos um barco em direção ao porto de Napoli e de lá embarcamos num trem em direção à estação de Florença. Lembro que mamãe sempre falou de Florença como uma cidade espetacular e, apesar das minhas altíssimas expectativas, a verdade é que Florença foi ainda melhor do que o esperado. O melhor destino italiano que visitamos.
Chegamos à estação central e caminhamos por cerca de 600 metros, arrastando nossas malas, até chegarmos à nossa hospedagem: o Residenza Le Fonticine Bed & Breakfast. Simples, aconchegante e numa localização excelente, muito perto do coração histórico da cidade.
Como sempre, eu e Igor não consultamos nada. hehehe Deixamos as malas no quarto, tomamos um banho e saímos a pé pela cidade, sem destino, sem mapa, fazendo nosso típico reconhecimento da área. Gosto desse sistema, faz com que eu me sinta mais "local", não sei como.
Andamos alguns minutos, entrando por ruas que não conhecíamos e ao vivar a esquina avistamos uma praça. "Olha, amor! Tem alguma coisa ali, bora ver!" - disse eu, despretensiosamente. E seguimos a rua até encontrar uma das imagens mais marcantes da minha vida. "Alguma coisa ali" era somente o "Duomo" de Florença, a Catedral de Santa Maria Del Fiori, uma das mais incríveis obras gótico-renascentistas do mundo. Um colosso de arte que levou cerca de 6 séculos para ser terminada. A gente nem era "Brasil" e essa Catedral já estava em pé há quase 300 anos.
Antes que minha consciência pudesse entender que eu estava diante do Duomo, meu cérebro já tinha enviado todo tipo de emoções para a superfície da minha pele. Meus olhos se encheram de lágrimas, minha boca ficou seca, aberta, minha respiração foi suspensa por alguns segundos, meu corpo ficou arrepiado, minhas pupilas invadidas por uma imagem cuja beleza chegava à beira da violência. Foi um sentimento inexplicável de estupefação. É isso, eu estava estupefata. Incrédula.
Em inglês existe uma expressão que traduz bem o sentimento presente naquele momento: mind blowing, em tradução ao pé da letra seria "algo que explode sua mente". Naquele micro segundo, quando me deparei com o Duomo ao virar a esquina, tive uma sensação de que todo meu cérebro foi varrido por um tsunami de perguntas que bagunçou meus sentidos. Como conseguiram construir isso? Quem fez? Quem criou? Como tiveram essa ideia? Como desenharam? Como essa cúpula ficou em pé até hoje? Como encaixaram cada uma dessas pedrinhas? Quantas pessoas construíram isso? Quem planejou cada um desses detalhes? Por quantos anos? Como o ser humano cria coisas tão maravilhosas com a mesma maestria com que destrói?
Eu estava sobrecarregada de emoções e questionamentos, mas mais do que tudo, eu estava extremamente grata por poder testemunhar, com meus próprios olhos, a magnitude daquele lugar. Ali eu entendi por que Florença é uma cidade inesquecível e em nenhum outro momento da viagem, eu vivenciei a mesma descarga emocional que senti diante da Catedral.
O que fizemos durante nossos 3 dias em Florença foi basicamente percorrer toda cidade a pé, sem destino, entrando no que a gente tinha vontade. Desta vez não compramos nenhum bilhete para ônibus de tour e as únicas coisas que agendamos e pagamos para entrar foram a Galeria Uffizi, a Galeria dell'Accademia e a própria Catedral de Santa Maria de Fiori. Deixamos de entrar em vários pontos turísticos porque praticamente TUDO em Florença é pago. Cada jardim, cada igreja, cada monumento e os preços eram meio salgados (tipo, 15 euros por pessoa pra cada atração). Além de tudo Florença é cara. Comer e beber na cidade tem seu custo.
Mas mesmo não visitando cada monumento da cidade, foi simplesmente fantástico os dias que passamos lá. Florença tem uma energia jovem, pulsante, com um astral mais leve que Roma e a gente adorou a cidade que tem um visual tão medieval e inspirador.
Florença é uma cidade para a qual eu tenho vontade de voltar. Fiquei com um gostinho de quero-mais muito grande. Então com certeza, em algum momento da minha vida em que eu queira viajar pela Toscana, obviamente tirarei uns 3 dias novamente pra ficar só em Florença e visitar tudo que não visitei na lua de mel. Mas o que eu visitei vai ficar aqui registrado em ordem não cronológica, só pra vocês anotarem as dicas aí:
Catedral de Santa Maria del Fiori
Fizemos questão de agendar os bilhetes para visitar tanto a torre quando o "Duomo" da Catedral. Ao todo, subimos cerca de 800 degraus para ter uma vista panorâmica da cidade. Esta atração, especificamente, eu não indico para pessoas que tenham vertigem, labirintite, claustrofobia ou algum tipo de dificuldade motora, porque as escadas são MUITO apertadas, escuras, cansativas e em caracol, o que dá uma certa tontura. Vi algumas pessoas bem ofegantes, com dificuldade em subir tudo aquilo e bate um certo desespero imaginar que você NÃO TEM COMO SAIR CORRENDO, porque simplesmente não dá. Posto isso, só posso dizer que a vista lá de cima é maravilhosa e valeu toda a sofrência.
Galeria dell'Accademia
Visitamos a Galeria da Academia de Belas Artes exclusivamente para ver a estátua de Davi de Michelangelo, mas não precisamos agendar os bilhetes. Compramos lá mesmo, na hora. O lugar é bem interessante e, claro, não tem apenas a estátua de Davi, mas muitas outras estátuas perfeitas e até um vídeo mostrando como esse tipo de escultura era feita. Foi o passeio mais simples, mas muito legal.
Galeria Uffizi
Outro ponto que pagamos para visitar e valeu muito a pena. Além de ser uma galeria de arte absolutamente LINDA, a Galeria Uffizi abriga uma das minhas obras de arte preferidas: a Primavera, de Sandro Botticelli. A galeria inteira, tal como o Museu do Vaticano, tem muitas obras sacras, alguns temas bem violentos, o tipo de arte que, em geral, não me agrada muito. Mas diferentemente do Vaticano, na Galeria Uffizi eu pude ver muitas das obras que aprendi no colégio, nos capítulos de história de arte. Foi como voltar no tempo e relembrar memórias tão boas. (história era uma das minhas disciplinas preferidas). E gente, pode ser bem clichê gostar de Botticelli, mas ali, no contexto das outras obras expostas na galeria, os quadros de Botticelli são um sopro de leveza e frescor.
Ponte Vecchio
De dentro da Galeria Uffizi temos uma das vistas mais bonitas para a Ponte Vecchio, uma ponte medieval de pedra, onde se ladeiam diversas lojas de jóias preciosas. A ponte é um dos mais famosos cartões de visita da cidade e, ao fim do dia, os turistas se aglomeram na ponte para ver o sol se por, pintando o Rio Arno de tons alaranjados. Infelizmente nós não tivemos a sorte de ver o por do sol. O tempo ficou meio nublado. Saímos da Galeria Uffizi, atravessamos a ponte e fomos para o outro lado da cidade, descobrir os jardins de Florença.
Outros pontos por onde passamos
O outro lado da ponte reserva muitas belezas. Florença foi uma das cidades onde mais andamos a pé e pudemos ver as coisas com mais calma. Não tínhamos mais nada agendado para visitar então apenas fomos andando, andando, até chegarmos a qualquer lugar. E chegamos a uma parte amuralhada da cidade onde visitamos vários pontos: a Praça de Michelangelo, o Jardim das Rosas, um dos poucos com entrada gratuita, a Basílica de Santa Croce, Porta San Niccolo e a Basílica de San Miniato Al Monte.
Cidade vista a partir do Jardim das Rosas |
Jardim das Rosas |
Basílica de San Miniato al Monte |
Basílica de San Miniato al Monte |
Porta San Niccolo |
Basílica de Santa Croce |
Florença é mesmo uma cidade magnífica e o que completou ainda mais nossa experiência e adoração pelo lugar foi que comemos muito bem por lá. Igor perseguiu uma tradicional bisteca Fiorentina, mas até o momento eu não tinha comido carne durante a viagem e pretendia me manter assim (fico mais leve!), então eu fiquei nas massas, como sempre. Comemos em alguns lugares bem legais (e lindos!), que vale a pena estarem aqui.
O Mercado Central (Mercato de San Lorenzi)
O Mercado Central foi, disparado, nosso lugar preferido pra comer. Tomamos café da manhã 2 vezes lá e almoçamos mais uma. É um grande mercado cheio de mesas coletivas e stands de diversos tipos de comida. Você vai no stand, escolhe o que quer, paga e leva pra mesa pra comer. Além do lugar ser lindo, as comidas são MUITO gostosas! Foi no Mercado Central que eu conheci o famoso Canoli! Que coisa deliciosa, gente.
Canoli DELICIOSO de ricotta com pistache |
Almoço vegetariano EXCELENTE. Muito gostoso!! |
Gustavino
Descobrimos esse lugar por acaso e resolvemos entrar para Igor comer a bendita Bisteca Fiorentina. Ele achou MARAVILHOSO. Eu, particularmente, não curto comer apenas um pedaço inteiro de carne, então escolhi o spaguetti à bolonhesa que estava muito bom. O local não é barato, mas achei bem gostoso.
La Ménagère
Esse lugar foi uma grata surpresa. O La Ménagère é muito, muito lindo, um dos restaurantes mais bonitos de toda a viagem e reúne não só o restaurante em si, mas também uma floricultura e a venda de itens de decoração. A decoração do ambiente é muito charmosa e preserva a estrutura antiga do espaço. Achei a proposta muito incrível e a verdade é que eu queria morar ali dentro. É o lugar perfeito para qualquer momento: tranquilo no café da manhã, aconchegante no almoço, descontraído para um happy hour e super romântico para um jantar.
Ah, como eu fui feliz em Florença! Que cidade inspiradora! Pessoas tocando violino na rua, artistas pintando em todos os lugares, uma cidade muito vibrante! Pra completar, todas as vezes que eu e Igor saímos pra jantar relativamente tarde, sempre encontramos muitos lugares bacanas abertos. Florença tem muitas opções pra tudo o que você imaginar: comida, lojas, artesanatos, jardins, igrejas, galerias. E os vinhos? Ah, os vinhos da Toscana, ninguém explica.
Dicas e Considerações
1 / Como falei no início do texto, a estação de trem de Florença é a Santa Maria Novella (S.M.N) e é importante você saber disso caso vá de trem para Florença, porque existe uma parada antes.
2 / Nosso bed & breakfast era simples, mas bem aconchegante e nós optamos por não pagar o café da manhã deles. Preferimos tomar na rua.
3 / Florença é uma cidade cara, no geral, mas as lojas de fast fashion são mais baratas que em Roma.
4 / A Bisteca Fiorentina é um prato típico da cidade e quase todo restaurante tem no cardápio, mas não é todo lugar que oferece uma boa bisteca. Caso você seja bem carnívora(o), procure as melhores dicas no TripAdvisor.
5 / A maioria dos locais turísticos são pagos. Se quiserem ver tudo, preparem-se para gastar uns 80 euros (por casal) por dia, só para as atrações.
6 / O centro histórico de Florença dá pra fazer a pé com um pouco de disposição. Andamos num raio de 7km mais ou menos e passamos pelos principais pontos turísticos da cidade.
7 / Locais como Galeria Uffizi e Catedral de Santa Maria del Fiori precisam ser agendados, mas você pode comprar os bilhetes na cidade, nos próprios locais, um dia antes.
8 / Queríamos ter visitado o famoso Jardim de Boboli, mas a Italia tinha acabado de sair de uma seca profunda e nos avisaram que o jardim não estava florido pois não chovia há meses na região. Preferimos não pagar. hehehe
9 / Florença é a capital do couro! Tudo que você quiser comprar em couro legítimo você vai encontrar lá, mas não é baratíssimo não. Sandálias, bolsas, casacos, luvas, jaquetas. Comprei uma sandália que aguentou a viagem inteira e ainda está intacta.
10 / Florença, tal como Roma, não é uma cidade "acessível", no sentido de mobilidade mesmo. Imaginem, nas Igrejas medievais não tem elevador para cadeirantes ou pessoas com qualquer tipo de dificuldade de mobilidade. Um mísero joelho podre como o meu já me fez sofrer um bocado pra subir as escadas do Duomo. Infelizmente foi um padrão que percebi nessas cidades histórias: ou os acessos são difíceis ou inexistentes.
Que delícia de post! Estive lá no ano passado em pleno natal (saí na manhã do dia 24). Imagina o charme desse lugar numa época como essa. Beijos.
ResponderEliminarLindissimo, como tudo da Lua de Mel.
ResponderEliminarDe pensar que eu tenho três irmãos morando na Itália com suas famílias já tem alguns anos, e eu nunca tive muita vontade de estar ai, quem sabe algum dia eu mude de ideia né?
Por enquanto tenho tido algumas outras prioridades.
Parabéns Carol, post lindo.
Post MARAVILHOSO! Sou louca pra conhecer Florença, e cada vez que vejo fotos, posts inspiradores, tenho mais vontade ainda. Que que é essa Catedral?!?!?! Deus é mais, gente.. QUERO.
ResponderEliminarSobre acessibilidade, tenho notado que é um (mau) padrão europeu: coisas antigas não são acessíveis, nem mesmo moradia :(
Que post maravilhoso, ameeeei muito, Já fiquei super curiosa, para conhecer Florença. Amei as dicas, Quero viajar já!
ResponderEliminar<3
lindas fotos .lua de mel dos sonhos.Gosto qd posta foto das refeiçoes .luz e paz.
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