Finalmente arrumei tempo para escrever um post que muita gente já me pediu aqui no blog: como montar uma coleção de moda! O post vai ser longo, então eu aviso logo que é preciso paciência pra ir até o fim. hahahaha
Como muitas de vocês sabem, eu sou formada em publicidade e propaganda e entrei no "mundo da moda" pelo blog. Ok, fui criada no meio dos tecidos, mas mamis também não tem formação de moda, então sempre foi um mundo da moda meio amador. Até hoje temos dificuldade em organizar uma coleção e confesso que tudo o que eu faço é uma mistura de intuição, observação e minha própria experiência como publicitária. É que moda e publicidade têm uma coisa muito particular em comum: ambas precisam vender mais do que um produto, uma ideia.
Este fim de semana eu fiz um Workshop de Desenvolvimento de Coleção no Instituto Rio Moda com a Alessandra Marins que, além de ser um doce de pessoa, tem uma vasta experiência em consultoria de moda no Rio de Janeiro e participa ativamente deste mercado. Fiquei super feliz em constatar que o que eu andava fazendo na Prosa era mais ou menos o que deveria ser feito na hora de criar uma coleção. Porque o processo criativo, seja ele qual for, tem algumas etapas básicas que não mudam muito de uma área para a outra.
BRIEFING
O primeiro passo é saber para quem estamos criando. Em propaganda esta etapa tem o nome de briefing. No meu caso eu crio para a Prosa, uma marca muito novinha, que ainda é difícil definir um parâmetro de público. Mas para vocês compreenderem melhor, vou dar o exemplo que utilizamos no curso: Enjoy. A Enjoy é uma marca carioca, direcionada para uma mulher mais madura, na casa dos 38 anos, com filhos jovens e que se sente jovem também. Ela curte natureza, saúde e bem estar, mas é super urbana e prioriza looks ultraconfortáveis e versáteis. Em relação à marca em si, a Enjoy se identifica como uma marca colorida, que sempre utiliza elementos da natureza seja na estamparia, seja na composição das fotografias de campanha ou lookbook. Com estas informações nós tivemos que montar um moodboard de coleção para a equipe de marketing e branding avaliar nossas propostas.
BRAINSTORM
Aí começa a parte legal do processo criativo. Do mesmo jeito que acontece na publicidade, o brainstorm é a etapa que inicia a discussão de ideias para uma coleção de moda. Nosso grupo analisou a coleção atual da Enjoy e resolveu que a próxima coleção deveria ser mais leve, ter mais elementos da natureza, mas mantendo essa aura contemporânea da mulher moderna. Todo mundo foi jogando ideias na mesa e chegamos a uma ideia em comum: poderíamos inspirar nossa coleção em Inhotim, um museu de arte contemporânea que tem uma arquitetura super urbana, mas está inserida numa natureza exuberante. Foi sobre esse conceito de dualidade feminina, de força e delicadeza, que começamos a buscar referências e a construir nossa ideia de coleção.
PALETA DE CORES
Alessandra, nossa facilitadora no curso, nos deu uma espécie de passo a passo para a montagem da coleção, mas frisou que cada profissional tem seu próprio método criativo e que esse método vai sendo descoberto, aprimorado, lapidado com o tempo. Existem várias formas de se começar a criar uma coleção: vocês podem começar a partir de uma paleta de cores, de algum tecido específico, de determinados tipos de acabamento e bordados, de uma estampa, enfim. Os pontos de partida podem ser variados. Nós escolhemos começar pela definição da cartela de cores. Confesso que, para mim, esse é um passo que simplifica o resto do processo. Eu sempre comecei pelas estampas e acabei tendo dificuldade em coordenar minhas estampas com outros tecidos disponíveis no mercado, porque não encontrava cores que combinassem. Agora resolvi que sempre vou começar pelas cores e depois desenvolvo as estampas na paleta definida! hehehehe Então nós buscamos elementos de Inhotim para construir nossa paleta de cores e voilá!
Algumas obras do museu serviram de inspiração para definirmos as cores base da coleção. As obras de Yayoi Kusama, Adriana Varejão, Matthew Barney, Hélio Oiticica, entre outras, foram alguns pontos escolhidos para virar cor e estampa. As cores de base são aquelas que predominam em toda a coleção e é pensando nelas que devemos coordenar a combinação de tecidos lisos e acessórios, por exemplo. Ok, não existe uma regra obrigatória para isso, mas é mais fácil criar a harmonia da coleção se atentarmos a esses detalhes.
FORMAS E TECIDOS
As cores de base foram escolhidas e aí passamos a definir que tecidos poderiam traduzir nossa "mulher Inhotim". Como a coleção inteira foi construída em cima da dualidade de força x delicadeza / urbanismo x natureza, entendemos que essa dualidade teria que ser traduzida nos tecidos e formas da coleção. Escolhemos então trabalhar com um mix interessante: linho x seda / viscose x tricô. Em cada look seria explorado esse equilíbrio entre peso e fluidez. A ideia foi manter sempre o conforto da marca e explorar formas mais sequinhas, sofisticadas, sem deixar de ter aquela leveza e despojamento cariocas.
DETALHES E TEXTURAS
Depois de definirmos as cores e os tecidos, passamos para a etapa de estabelecer o mood dos detalhes da coleção. O que poderia traduzir essa mulher moderna, mas com um toque de natureza? Sofisticada, mas com uma simplicidade natural? E aí fomos buscar referências (pinterest é o melhor lugar pra isso!) de acessórios que pudessem traduzir essa dualidade. Escolhemos peças que unem design sofisticado com elementos rústicos como madeiras, tramas, palhas, etc. O Brasil é um país com uma identidade muito forte de manufatura e artesanato, então pensamos que seria incrível adicionar detalhes artesanais na nossa coleção, mas de forma ultramoderna. E este foi o nosso moodboard de inspiração: temos bolsa de palha e colar de madeira, mas com uma roupagem sofisticada.
ESTAMPAS
Por fim, chegamos à parte das estampas! Estampa é uma coisa difícil de se trabalhar, porque tem que conversar muito com a alma da marca, sem deixar de seguir algumas tendências da moda, afinal o produto precisa ser desejado e vendido. Então para mim, que crio estampas, nem sempre é fácil fazer algo dentro de um briefing fechado, mas no caso da nossa coleção inspirada em Inhotim, o trabalho ficou bem interessante. O que fizemos? Exploramos as tendências sem cair no lugar comum. Este ano o verde militar vem com tudo. Temos verde militar. As bolas vem com tudo. Temos bolas. As estampas geométricas (sempre) vem com tudo. Temos geometria. Os florais nunca deixam de faltar em todas as estações. Temos florais. Mas desenvolvemos essas tendências usando as obras de Inhotim como inspiração máxima, sempre respeitando a paleta de cores!
Estas não seriam as estampas finais, ok? hehehe era só uma ideia do que poderia ser desenvolvido tomando as obras como ponto de partida.
RELEASE
E é isso! Criamos uma ideia de coleção, estabelecemos cores, texturas, tecidos, mas principalmente criamos um conceito que precisa ser vendido. E o primeiro passo para uma coleção ser aprovada, é vendê-la dentro da própria empresa. A equipe de estilo precisa encontrar argumentos para vender aquela história que foi criada e esses argumentos vão vender a coleção para o consumidor final através de materiais como o release. Sim, no curso criamos até o release da nossa coleção! Um textinho que "explica" a coleção, as inspirações, os moods criativos, e que serve para os veículos de comunicação analisarem a coerência do que é apresentado. Claro que muitas marcas (principalmente as que estão começando) não conseguem chegar nesse nível de detalhamento, mas é interessante o exercício de colocar em palavras conceitos tão visuais. Ler o release a todo momento, nos ajuda a manter o foco na essência da coleção e excluir possíveis pontos fora da curva.
Por fim, vamos lá apresentar a coleção e esperar que ela venda. hehehehe Este post é um passo a passo bem básico e não rígido de como criar um conceito de coleção, mas é claro que o processo todo é muito mais trabalhoso e envolve bastante pesquisa não só de referências bacanas, como de macrotendências, microtendências em várias esferas das artes visuais como a arquitetura, a escultura, a fotografia etc. A moda é uma dessas matérias em que todos os eventos humanos são fonte de interferência e inspiração e guiam processos criativos. No nosso caso, Inhotim foi uma micro inspiração para tudo: desde a concepção das cores e dos materiais, até a ideia de usar as obras do local como cenário para o shooting da "campanha", mas está inserido numa macrotendência chamada Wild, que vimos no curso, que explora conceitos como liberdade, natureza, selvagem, etc. Olhando assim, parece simples, mas o processo entre criar uma coleção e tê-la de fato nas lojas, pode levar até 2 anos para ser concretizado e muitas marcas trabalham com toda essa antecedência (ainda não é o caso da Prosa, kkkkk). Num próximo post sobre o assunto, vou detalhar para vocês esse "cronograma" de produção de coleção, baseado na minha minúscula experiência com a Prosa. Tenho certeza que vamos poder trocar informações valiosas!
Tcharamm! Ufa. Que postzão. Gostaram deste tipo de conteúdo? Depois deste curso, fiquei interessada em fazer alguma pós-graduação na área de moda, seja de branding, ou marketing, ou estilo, não sei. Alguém tem dicas de pós-graduações interessantes? :D
Beijos, Carols
Massa! Keep going, babe! U rock!
ResponderEliminarCarol, adoraria você aprendendo a mexer nas directs do insta! :( tem coisa lá. Mulher!
ResponderEliminarCarols, ficou muito legal esse tipo de conteúdo no blog. Mesmo para pessoas como eu, que não trabalham com moda, é legal saber e se inspirar no processo criativo. Eu, por exemplo, posso trazer isso para o meu dia a dia, como redatora. Além de ser enriquecedor para o blog e sair do ~mais do mesmo~.
ResponderEliminarVolto a dizer que Inhotim é um dos meus lugares preferidos no mundo. Eu usaria super o primeiro e o segundo vestido, mesmo que ambos não estejam na estampa final. Hahahaha.
Sobre a Pós, faça! Tem tudo a ver com você <3 Beijinho.
Carol, fique à vontade pra fazer outros posts-delícia desses.
ResponderEliminarmuito interessante! eu amo moda, mas no lado de cá, do consumo, rsrsrs... mas é muito bacana conhecer o processo criativo, como as coleções são pensadas e produzidas!
ResponderEliminaraguardando ansionsamente o prox post ;)
beijos
Muito legal esse tipo de post, Carol.
ResponderEliminarParabéns pelo blog!
Vc é top!!
Adorei, Carolzinha! Continua! Trabalho com isso mas faço tudo na base da inspiração, do sentimento. Tenho muita dificuldade nessas coisas ai. Foi massa o jeitinho que tu explicou. Continua, continua! :D
ResponderEliminarEu não costumo ler textos muito grandes - como vc mesma alertou hahaha - mas esse eu fiz questão de ir adiante e com atenção.
ResponderEliminarEu sou muito interessada em Moda. Na verdade, minha pretensão sempre foi essa: a de trabalhar com ela. Também 'circulei' entre os tecidos quando pequena e foi isso que me despertou pra vida, o que eu queria ser.
Sou formada em Indumentária, que não tem essa mesma proposta mercadológica forte que a moda tem, mas o processo de construção eu diria que é basicamente o mesmo. Todos os meus trabalhos foram feitos assim, destrinchando cada parte, só que em vez de um conceito a ser vendido, deveria ser um a ser vestido por personagens.
Ainda vou direcionar esse meu caminho de figurino pra moda, mas já fico bem satisfeita em saber que ambos são bem parecidos e que não estou tão distante assim dessa realidade. ;)
Oi, Carol!
ResponderEliminarTambém sou formada em publicidade e comecei a me interessar em marketing de moda, mas por enquanto é só uma vontade guardada pra um futuro próximo, assim espero! hahaha
Também não sou de ler posts tão enormes, nem de seguir blogs de moda, mas adoro o seu e amei esse post. Fiz um curso de Branding na Perestroika ano passado, onde tínhamos que fazer um trabalho como esse. É bem trabalhoso, mas muito interessante!
Bom, se te ajudar, tem uma pós em Marketing de Moda na ESPM. Deve ser maravilhosa!
Beeijos!
Gostei muito de ler o post, trabalho com processo criativo na Arquitetura e é legado saber os métodos de outras profissões criativas.
ResponderEliminarSobre se inspirar em inhotin, eu acho legal. Só fiquei pensando que a Osklen fez isso a pouco tempo. Claro que apesar da inspiração ser parecida, vocês provavelmente chegariam a resultados diferentes. Vocês levaram isso em consideração?
Onde a pessoa se inscreve outra saber a resposta?
Uma vez te mandei um email fazendo uma pergunta bem simples sobre um assunto relacionado a moda, esperando que você fosse ser generosa para comigo, e você nunca me respondeu... fiquei decepcionadíssima! A pergunta era: onde encontrar tecidos no Rio.
ResponderEliminarnão sou da área, mas dê uma olhada do IED na urca, tem uns cursos de moda lá, pode ser interessante fazer cursos menos longos primeiro... ou não também... rs! mas é que sei bem o desânimo que dá encarar uma jornada longa de estudos junto com todo o resto da vida!
ResponderEliminarOi Kim!
ResponderEliminarcompro tecidos no Rio Comprido, no Pólo Têxtil ou em São Cristóvão! :)
Muito interessante este post! Quando vemos uma coleção numa loja nem imaginamos o processo longo e complicado para chegar naquele resultado. Adorei a estampa do segundo vestido. Ficaria lindo quase como está! (eu removeria o trator, rs).
ResponderEliminarGostaria de te perguntar o que acha destas grifes famosas que lançam coleções com roupas feias (para ser boazinha) e ainda assim vemos pessoas dizendo que são lindas e etc. só porque é da Dior, YSL, LV, e por aí vai... Sei que na passarela, tudo é mais uma inspiração de cores, texturas, etc, e a ideia é "viajar" mesmo, mas a impressão que fica é a "compra" da própria marca e não da ideia que tiveram para a coleção, que pode ser horrível, mas o povo diz que é lindo, demais, e lá lá lá... Tô viajando?! Rs
Você usaria uma roupa que acha feia só porque é Chanel?! Mais ou menos isso que quero dizer...
Bjs
Carol, este foi um de seus melhores posts! Adorei o conteúdo, é muito útil, ainda mais para estudantes!
ResponderEliminarE que supimpa essa inspiração em Inhotim! Um de meus lugares favoritos!
Muito legal o post! Essas estampas que ainda nem seriam a versão final (nos três vestidinhos) são muuuuuito lindas!
ResponderEliminar[…] ideias, aspirações, história, cores e como tudo aquilo é feito até chegar no nosso armário. A Carol Burgo mostrou alguns detalhes deste lado oculto e cheio de formas e tecidos. Se você pensa em cursar moda ou tem interesse em abrir uma loja futuramente o post vai te […]
ResponderEliminarMuito legal. Tô buscando o passo-a-passo desse processo há muuuito tempo, mas não achava. Me deu uma boa base! :D
ResponderEliminarObrigado por compartilhar um conteúdo tão bacana.
Ei Carol boa tarde amei o post eu estou na luta querendo aprender a criar coleções ou mini coleções para meus laços RS muita informação bacana que vc expôs ,sobre curso ou graduação procura no insta se ainda não conhecer @amobranding lá tem conteúdos bacanas e um curso muito bacana que de repente pode te ajudar abraços
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