Recentemente fiz este post aqui no blog, respondendo a dezenas de perguntas de leitoras e seguidoras e grifei em vermelho uma pergunta em particular, que prometi responder com calma e detalhadamente:
@misscriacao: Carol, agora que você lançou sua marca e fez curso de estampas e tomou conhecimento do processo de criação, você continua defendendo uma moda mais acessível?
Quem acompanha o blog sabe que há uns tempos escrevi um texto mais ou menos sobre esse assunto (que vocês podem encontrar neste link aqui), mas resolvi responder a esta questão de forma mais específica. Há anos que venho trazendo para o Small um conteúdo pautado no uso de uma moda acessível e de como podemos ser mais criativas/ousadas/irreventes/fashion mesmo usando roupas de departamento. Porque, como já disse, estilo é igual casamento: na riqueza e na pobreza. Então, não sendo ricas, temos que trabalhar dentro das possibilidades da nossa realidade, sem neura, sem regras e com um olhar super apurado.
Depois de passar anos consumindo o que a moda me oferecia, eu decidi explorar o outro lado da moeda: oferecer moda. Já falei aqui que minha mãe sempre costurou e vendeu suas roupas, mas eu enveredei por um caminho diferente, que envolve todo o processo de produção de uma peça de roupa, desde a criação da estampa, do tecido, até o desenvolvimento e venda de uma coleção. Um trabalho ardiloso, cheio de percalços. E sim, posso dizer que hoje eu tenho dificuldade em defender a dita "moda acessível", porque sei o quanto é inacessível produzir moda no Brasil.
Isso não quer dizer que eu tenha abandonado essa busca por uma moda mais, digamos, democrática. Continuo sim comprando roupa barata nas lojas de fast-fashion por falta de verba, mas além de não ser um consumo justo com meu próprio trabalho (que ironia), cada peça que eu compro numa loja de departamento, eu tento imaginar o quanto aquela rede pagou para produzir aquilo em quantidades industriais fora do país e por quanto eu produziria aqui, em pequena escala, em território nacional. É uma concorrência muito desleal e por isso decidi que o melhor é gastar minha energia criando algum diferencial para a minha marca, ao invés de chorar as pitangas de não poder competir com esse tipo de produção. É claro que é desestimulante saber que o metro de viscose estampada da tal loja custa uns R$ 5 (no máximo!!!) e o preço da minha viscose estampada exclusiva custa entre R$ 29 e R$ 52 o metro, mas o que eu posso fazer? Sentar e chorar? Comprar qualquer tecido estampado da China e perder justamente a única coisa que diferencia minha marca de qualquer outra? Definitivamente não é esse o meu plano.
Para mim, hoje o conceito de "moda acessível" é uma via de mão única: o consumidor tem acesso a esse gigantesco mercado de produtos baratos (fast-fashion, ebay, aliexpress, etc), mas o pequeno produtor brasileiro não tem acesso à capacidade de produzir suas peças com qualidade e preços competitivos e, por isso, não sobrevive no mercado por muito tempo. A carga tributária altíssima que permeia toda a cadeia de produção é repassada para o cliente a preços que, nem de longe, são comparáveis a uma loja de departamento. Inclusive arrisco dizer que marcas novas que praticam preços baixos demais, em algum momento vão fechar suas atividades porque simplesmente seus lucros não vão cobrir a inflação galopante dos seus custos. (acreditem, muita gente abre uma marca sem saber fazer essa conta!)
Então, por mais que eu consuma a moda dita acessível, eu não tenho como criar essa moda acessível (que controverso!), muito pelo contrário: me vejo todos os dias debatendo formas de baratear custos de produção para criar peças com preços "dignos" e esbarro na enorme parede dos custos altos (e sempre subindo!) de ter uma marca no Brasil: aluguel, costureiras BOAS (cada vez mais caras e mais raras), tecidos, impressões, cortes, modelagens, fornecedores, provas que dão errado, máquinas industriais, energia que aumenta, transporte, etc, etc, etc. Uma série de despesas que não passam pela cabeça de quem está do outro lado da moeda consumindo a "moda acessível". Um lado no qual continuo até hoje, porque é o que posso consumir, mas sobre o qual agora tenho uma consciência que me entristece.
Beijos, Carols
Interessantíssima essa sua reflexão, Carol!
ResponderEliminarMuito bom o texto. As meninas do blog Tudo Orna também fizeram uma reflexão desse tipo a um tempo atrás, e eu como estudante de Ciências Contábeis, e formada em Comércio Exterior, sei muito bem que é impossível fazer roupas acessíveis no Brasil, exatamente pela concorrência desleal, principalmente do mercado chinês, que atinge preços baixíssimos. Adorei o texto, e acho que cada vez mais quem tem um pequeno negócio deve se expressar e mostrar aos consumidores "reclamões" que vocês fazem o melhor que podem dentro de uma economia tão maluca!
ResponderEliminarPoxa Carol, um dos melhores post que li aqui. Parabéns pela Marca Prosa e por nos deixar concientes da realidade da moda
ResponderEliminarCarol,
ResponderEliminarTambém estou do outro lado da moeda, mas de um segmento diferente. Faço festas e quantas vezes as clientes sequer respondem à minha proposta pq acham muito caro, mas não imaginam os custos altíssimos para a produção, por mais simples que a festa seja. E nós também temos sonhos, planos, contas a pagar e trabalho foi feito para dar dinheiro também, né.
Eu não acho suas peças caras, acho um valor muito justo. Uma pena eu não poder consumir Prosa como eu gostaria, mãe Dilma deixa não.
Carolllll (NÃO É PRA ACEITAR ESSE COMENTS)
ResponderEliminarTem um errinho ali no teu texto... a palavra OUÇO tá escrito errado. Muda correndo kkk Bjsss
hahahahah fofinhaaa! <3
ResponderEliminarOuso tá certo, sim! usei o verbo OUSAR/ARRISCAR e não o verbo OUVIR. :*
Parabéns pelo texto, Carol! Você escreve bem e gosto das suas colocações porque você é muito ponderada. Acho mesmo que quando se trata de moda e seus valores nós, consumidoras comuns, devemos relativizar sobre o que é o tal "preço justo". Roupas de fast-fashion são bonitinhas, mas nem sempre são de boa qualidade, já roupas produzidas por profissionais de moda que acompanham todo o processo produtivo tendem a ter uma qualidade melhor do esses produtos chineses. Eu, enquanto consumidora, tento um equilíbrio entre aquilo que posso pagar e entre aquilo que eu sei que tem uma melhor qualidade, é uma peça mais exclusiva e tem um valor que justifica a qualidade e a "exclusividade".
ResponderEliminarCarol, venho refletindo sobre esse tema ultimamente também, e sou consumidora dessas redes de fast-fashion por não ter outra escolha "acessível". É super difícil encontrar preços competitivos nas lojas menores, com produção própria, mas acredito que seja nossa escolha reduzir o consumo pra conseguir comprar da forma correta.
ResponderEliminarA "moda acessível" tem um preço muito alto: nós deixamos de pagar mas outras pessoas na cadeia produtiva estão sofrendo as consequências. Pelo que conheço da sua loja (que vi no site) não acho que é impossível fazer isso, apesar de tudo, os preços finais dos seus produtos não são tão mais altos assim, dá pra comprar tranquilamente se a gente comprar com consciência (menos e melhor). Continue seu trabalho, você está de parabéns, tenho certeza que é só uma questão de tempo pra que isso fique cada vez mais claro para o mundo.
www.simplesbela.com
Sabia que uma hora isso ia acontecer, acontece com todos... Uma pena.
ResponderEliminarCarol, você está certíssima: o custo Brasil é enorme e penaliza os empreendedores. Por outro lado, as fast fashion que vendem tudo muito barato só conseguem isso escravizando humanos em outros países. Você já deve ter lido esta reportagem mas não custa repeti-la, de tão importante que é: http://marggah.blogspot.com.br/2015/01/os-blogueiros-noruegueses-no-camboja.html
ResponderEliminarMuito triste a situação da indústria de confecção. Admiro você por sua iniciativa. Sua loja é linda, espero que tenha muito sucesso: você merece.
Entendo perfeitamente e gostei de sua sinceridade. Não acho que suas peças sejam caras, de forma alguma! Só não comprei ainda por não achar que combine com meu corpo "voluptuoso" cof cof cof hahaha.
ResponderEliminarO que acaba acontecendo comigo é que quando compro algo ótimo de marca brasileira, é caro, bem caro, mas a qualidade do tecido... É realmente muito superior. Quando me apaixono por uma peça, mesmo cara, eu compro, pois sei que irei usar por muito tempo e vai durar (só ter cuidado com traças...), mas como não consigo pagar à vista, divido no cartão, quer dizer, minha renda não combina com os produtos que quero consumir :(
Estou aprendendo a costurar, quero fazer coisas para minha casa e roupinhas também.
Há um tempo atrás tive vontade de abrir uma loja para revender marcas que adoro de Minas e São Paulo, mas menina! Fui colocar na ponta do lápis e não pude arcar com o projeto. Nosso país suga demais dos pequenos empreendedores, desisti!
Torço por você, és muito talentosa e adoro ver a inspiração de cores e estampas que você faz e percebo um toque do nosso nordeste tão rico, parabéns e sucesso sempre!
Texto perfeito, é bom ler essas coisas até para criar mais consciência na hora de comprar.
ResponderEliminarSempre comprei em lojas de dep. mas ao mesmo tempo eu SEMPRE consumi artigos de feiras, feitas por pessoas locais e que produzes suas roupas, bolsas, bijus e etc....Realmente até as pessoas que criam a obra nem sempre colocam preços tão acessíveis, mas a gente sabe o custo, trabalho e etc que a pessoa teve para produzir aquilo.
Acho que o que vc cobra é um preço justo SIM considerando todos esses percalços.
Eu mesma tive uma reação negativa ao comprar o teu biquini pela primeira vez considerando um preço alto e achando que a qualidade não era tão excelente, mas ao usar a peça e comparar os preços das outras marcas/lojas e acompanhar tudo o q vc faz para produzir isso tudo eu concluí que não só vale a pena pagar pela exclusividade, como tb vale pela qualidade oferecia, hj em dia eu posso dizer que AMO seus biquinis (até comprei mais 2 depois disso) e as suas roupas tb são muito boas (tb tenho uma saia midi que eu AMO, e ja pensando em adquirir outras, só não compro mais pq né...aquelas coisas, mas se pudesse comprava quase tudo rs).
Tô até fazendo minhas camisas tie-dye e com idéias de comercializar, adoro criar tb!!!
POR FAVOR NÃO DESISTA!!!
Bjos Natilady
Oi Carol!
ResponderEliminarEm qual estamparia você printa suas estampas? Quero estampar em viscolycra
Estou procurando mas não consigo achar uma!!!
Obrigada,
Kim
Oi Carol, excelente reflexão. Sou fã da originalidade da sua marca prosa, e concordo - é muito difícil ter um preço semelhante ao preço de uma fast fashion. Impossível, dentro destas condições desleais, como alguém comentou, com relação a importação do mercado chinês e mesmo da terceirização que as marcas nacionais fazem.
ResponderEliminarEstou mais ou menos nos dois lados da moeda - sou figurinista, tenho um bazar de achados, e sou uma tentativa ambulante de consumo *suspiro* "sustentável", ou seja - segunda mão e confecções autorais, como a sua. Não sai mais barato, mas sempre me deixa mais feliz e satisfeita. Acho que você deve continuar investindo nisso de que está vendendo uma "experiência", sua historia por meio das suas criações, que são lindas.
Beijos,
Anna
Muito interessante o texto. E é válido lembrar também que muitas dessas marcas baratas usam mão de obra escrava para baratear custos. A gente que é consumidor fica numa "sinuca de bico", imagino como é para quem produz...
ResponderEliminarParabéns Carol, todos os consumidores brasileiros deveriam saber disso, em contrapartida tava esperando o tipo da calcinha mariposa abacaxita, quando vi que sai por R$ 121, 60 eu quis chorar, morrer, espernear, pedir esmola no ônibus o que eu faço Deusoo, mas agora te entendo!
ResponderEliminarProduzo moda fazendo 100% de toda mão de obra, criação, compra de tecidos, modelagem, corte, costura, venda, propaganda a bexiga toda. Começou a surgir a necessidade de terceirizar alguma dessas partes. Consegui uma costureira, boa, que me disse que produziria o vestido com ziper invisivel, bainha de lenço, pesponto, revel, saia recortada, por 3,50, cada unidade das 20 que eu queria. Não consegui aceitar o preço. É possível produzir essa moda acessivel mas sem reconhecer o trabalho da costureira, por mão de obra baixissima. Conheço uma pessoa que trabalha das 7h da manhã às 5h da tarde com 1h de almoço atrás de uma máquina fechando lateral de manga de camisa pra não ganhar nem um salário mínimo. A empresa possui 400 costureiras e a produção é altissima! E de um vestido de R$150 ~por exemplo~ da coleção de estilistas da c&a consegue lucrar muito em cima de outros. Imagine quantas costureiras não são escravizadas pra se conseguir comprar uma camisa a menos de 10 dólares no ebay. Não consigo aceitar, e se for pra produzir moda, a preço mais caro mas com trabalho saudável eu prefiro. Roupa boa, exclusiva, bem costurada e pensada feita por pequenos empreendedores do brasil tem um preço diferenciado sim. Precisamos pagar o preço pela exclusividade.
ResponderEliminarBeijo carolzinha, adoro essa cutucada que tu dá na gente.
[…] a reflexão da Carol sobre moda acessível e como é difícil produzir algo de qualidade com preços baixos/honestos no […]
ResponderEliminarOi Carol!
ResponderEliminarEm qual estamparia você printa suas estampas? Quero estampar em viscolycra...
Estou procurando mas não consigo achar uma!!!
Obrigada,
Kim
[…] http://www.carolburgo.com/2015/03/moda-acessivel.html […]
ResponderEliminarOi Carol, achei muito válido você explicar isso assim tão claramente. Sou costureira, já trabalhei para confecções grandes e atualmente estou em um ateliê e sei o quanto é difícil, sempre que penso em fazer roupas para vender me deparo com essas "contas" e desanimo. Eu ando percebendo que até as lojas de departamento (algumas) subiram os preços e a qualidade das peças não está lá aquelas coisas. Minha saída é ir até a banca de promoção da loja de tecidos e fazer minhas roupas rsrs. Suas peças são lindas, não desanime. Bjo
ResponderEliminar[…] Consumir moda acessível x produzir moda acessível no Brasil. Achei muito bacana explorar esse ponto de vista e saber a diferença. […]
ResponderEliminaroi carol, pois é, moda e qualquer outro segmento no Brasil gera custos altos por causa de tantos impostos nas compras de materiais para poder produzir, ser empresario no Brasil é quase quase impossivel, você batalha para conquistar um nome e aos poucos vai percebendo que o governo leva mais da metade do seu lucro, sou empresaria em um ramo totalmente diferente mas acontece o mesmo :(
ResponderEliminarcarol me visite também:
Gilvaniaevans.com
Sempre aprendo muito com suas postagens. Eu tinha preconceito com questões sobre moda, mas seu conteúdo desmistifica total essas ideias negativas sobre o universo fashion.
ResponderEliminarCarol, amei esse e outro post sobre isso, e concordo muito com vc! Eu era uma das que há 2,3 anos atrás, pensava que tudo era muito caro e inacessível em matéria de moda no Brasil e que era loucura pagar caro em uma roupa de "marca". Hoje, com mais informação de moda, tenho consciência de que pra vc ter um tecido, caimento e acabamento legal em uma peça de roupa, vc paga por isso! fast fashion é barato? é... mas vc não tem qualidade, não tem caimento, a roupa não dura... fora as coisas duvidosas que estão envolvidas na produção dessas peças, que de vez em quando se noticia por aí... Adoro a sua marca prosa, ainda não comprei pq infelizmente meu poder aquisitivo não anda permitindo e tenho que priorizar outras coisas sendo casada rrsrs, mas acho que é diferencial e tem um preço justo, pela qualidade e trabalho envolvido. Vc tem estampas lindas, criadas por vc e só isso já é um motivo pra pagar mais... infelizmente, ainda consumo muito em lojas de departamento, mas procuro ser mais seletiva, mesmo comprando barato... e quando posso comprar coisas de qualidade e que custam mais justamente por isso, faço questão de comprar! bjoooo... amo seu blog, e sua marca!
ResponderEliminarCarol, entendo o seu ponto de colocação sobre o assunto. Porém, não deixe que o fato de atualmente você não poder fornecer um preço acessível te frustre. Existem consumidores para cada tipo de preço praticado. Como você mesmo mencionou, a tributação brasileira torna o mercado para os pequenos empreendedores desleal. Porém, você pode direcionar sua marca para clientes que possam pagar, e em um futuro montar um projeto para preços mais baixos. Não desista!!!! Também não achei seus preços caros, levando em consideração por ser peças de qualidades e com diferencial.
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